DISCENTE: POLIANA CARVALHO
ALBUQUERQUE,
Eliana Borges Correia de. Conceituando alfabetização e letramento. In: SANTOS,
C. F.; MENDONÇA, M. (Org.). Alfabetização
e letramento: Conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.p.
11-22.
Segundo
a autora a “alfabetização considerada como o ensino das habilidades de
“codificação” e “decodificação” foi transposta para a sala de aula, no final do
século XIX, mediante a criação de diferentes métodos de alfabetização – métodos
sintéticos (silábicos ou fônicos) x métodos analíticos (global) –, que
padronizaram a aprendizagem da leitura e da escrita. (ALBUQUERQUE, 2007, p.
11,12). Por vezes “a experiência “traumatizante” de alfabetização na escola
devia se não só aos castigos aos quais muitos de nós fomos submetidos, mas às
próprias atividades desenvolvidas, com ênfase na repetição e na memorização de
letras, sílabas e palavras sem significados” (ALBUQUERQUE, 2007, p. 14). “Mas a
partir da década de 1980, o ensino da leitura e da escrita centrado no
desenvolvimento das referidas habilidades, desenvolvido com o apoio de material
pedagógico que priorizava a memorização de sílabas e/ou palavras e/ou frases
soltas, passou a ser amplamente criticado.” (ALBUQUERQUE, 2007, p. 15).
“No
campo da Psicologia, foram muito importantes as contribuições dos estudos sobre
a psicogênese da língua escrita, desenvolvidos por Emília Ferreiro e Ana
Teberosky (1984). “Rompendo com a concepção de língua escrita como código, o
qual se aprenderia considerando atividades de memorização, as autoras
defenderam uma concepção de língua escrita como um sistema de notação que, no
nosso caso, é alfabético” (ALBUQUERQUE, 2007, p.15). Atualmente “principalmente
a partir da década de 1990, o conceito de alfabetização passou a ser vinculado
a outro fenômeno: o letramento. Segundo Soares (1998), o termo letramento é a
versão para o Português da palavra de língua inglesa literacy, que
significa o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e a
escrever.” (ALBUQUERQUE, 2007, p.17) compreendemos que “alfabetizar e letrar
são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria
alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das
práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse,
ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado.” (ALBUQUERQUE, 2007, p.19).
SANTOS,
Carmi Ferraz. Alfabetização e escolarização: A instituição do letramento
escolar. In: SANTOS, C. F.; MENDONÇA, M. (Org.). Alfabetização e letramento: Conceitos e relações. Belo Horizonte:
Autêntica, 2007.p.23-36.
A proposta da
autora “é discutir algumas questões relativas à ligação que se tem estabelecido
entre a alfabetização e o processo de escolarização, analisando de que forma o
caráter assumido pela escolarização interferiu na construção de determinado
conceito de alfabetização na sociedade ocidental” (SANTOS, 2007, p.24). Segundo
a mesma “antes do desenvolvimento de um sistema burocrático de ensino, o
processo de alfabetização ocorria de modo informal, a aprendizagem da leitura e
da escrita se dava nos grupos aos quais as pessoas faziam parte e nos mais
variados ambientes, como a própria casa ou local de trabalho” (SANTOS, 2007,
p.25). “Embora considerada elementar, essa alfabetização, argumenta
Cook-Gumperz, foi capaz de permitir o crescimento de uma cultura popular
letrada, que passou a fazer parte da vida diária das pessoas comuns. A
princípio, as práticas de leitura, primeiramente, e a escrita mais tarde,
possuíam valor nas áreas recreativas e sociais, assumindo apenas posteriormente
um papel na vida econômica dessas pessoas” (SANTOS, 2007, p.25).
“Como podemos perceber, não foi à
escolarização que promoveu a alfabetização. Pelo contrário, a escolarização foi
uma consequência do desenvolvimento de uma alfabetização popular que promoveu
uma cultura popular letrada que se constituiu como parte de um movimento em
favor de mudanças sociais, entre elas o acesso à escola.” (SANTOS, 2007, p.27).
Ou seja, “não foi preciso que primeiro fosse implantada uma escolarização em massa
para que as pessoas comuns fossem alfabetizadas.” (SANTOS, 2007, p.25) “Se não
foi a alfabetização, qual a motivação para a implantação de uma instrução pública?
Segundo Cook-Gumperz (op. cit), a demanda por uma escola formal partiu de pelo
menos duas forças: 1) da pressão das pessoas comuns que defendiam a
alfabetização e a conquista da escolarização como parte de seu desenvolvimento
pessoal e social; 2) da crescente necessidade de uma força de trabalho com um
senso de disciplina e de competências escolares.”
(SANTOS, 2007, p.27).
“Uma
das primeiras conseqüências dessa relação que passa a se estabelecer entre a
alfabetização e a escolarização foi a instituição de um processo de
alfabetização distanciado dos usos e do material de leitura e de escrita presentes
no cotidiano das pessoas. O que passa a ser ensinado mediante a alfabetização
escolarizada não faz parte de uma cultura letrada local, uma vez que um ensino
que se quer universal necessita de um saber padronizado e sistematizado.”
(SANTOS, 2007,p.29). Sendo assim “o processo de ensino da leitura e da escrita
deixa de ser realizado baseando-se em textos utilizados no cotidiano e passa a
utilizar material escrito elaborado especificamente para uso escolar. Ou seja,
o letramento como prática social de leitura e escrita do cotidiano passa a ser
substituído por um letramento eminentemente escolar.” (SANTOS, 2007, p.29) e esse
tipo de letramento “controla muito mais do que expande as práticas de
letramento, já que desconsidera as práticas de leitura e escrita vividas fora
do espaço escolar. Isso acaba por levar, na verdade, à desaprendizagem da
escrita, visto que o que passou a ocorrer na escola foi a aprendizagem pelo
aluno de uma escrita na qual a produção de texto” (SANTOS, 2007, p.29) “é ou
uma situação de demonstração de suas habilidades de grafar as palavras que lhe
foram ensinadas ou, em etapas mais avançadas do processo de alfabetização, de
demonstração da capacidade de usar a escrita com aquelas funções consagradas
pela escola, uma escrita que devolva a essa escola o discurso que ela impõe.”
(SOARES, 2004 apud SANTOS, 2007, p. 30)
Concluísse,
portanto que a professores devem “começar a fazer uma reflexão acerca dos
objetivos e valores que têm sustentado as práticas de ensino da língua escrita
na escola. Discutindo a noção de método que tem sido entendido como sinônimo de
manual, de regras a ser seguidas, e começar a considerá-lo como soma de ações
baseadas em conjunto de princípios que responde a objetivos determinados,
considerando que a alfabetização e a letramento, embora fenômenos diferenciados,
são interdependentes e intercomplementares.”
(SANTOS, 2007,p.34)
MELLO,
Márcia Cristina de Oliveira. O pensamento de Emília Ferreiro sobre alfabetização.
Revista Moçambras: acolhendo a alfabetização nos países de língua portuguesa,
São Paulo, ano 1, n. 2, 2007. Disponível em: <http://www.mocambras.org>. Publicado
em: março 2007.
A
autora, para compreender o processo de alfabetização no Brasil, fez uma
pesquisa sobre a obra de Emília Ferreiro, essa “pesquisa propiciou constatar
que Emília Ferreiro possui uma vasta produção escrita, traduzida para diversos
idiomas, em vários países, dentre eles o Brasil. Foi possível constatar,
também, que são poucos os estudos e as pesquisas realizadas sobre o
pensamento construtivista de Emília Ferreiro no tocante à alfabetização”
(MELLO,2007, p.86). “Essas constatações fizeram-me confirmar meu interesse de
pesquisa inicial e eleger como corpus para análise o livro Psicogênese
da língua escrita, escrito por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, traduzido,
no Brasil, em 1985” (MELLO, 2007, p.87)
Segundo
Mello (2007) Emília Ferreiro trouxe em meados da década de 1980 “por meio,
especialmente, dos resultados da pesquisa contidos no livro Psicogênese da
língua escrita, uma nova maneira de se pensar a alfabetização, já que, para
a pesquisadora, o fracasso na alfabetização está relacionado à maneira pela
qual esse processo vinha sendo proposto e praticado até então.” (MELLO, 2007,
p.88). No livro Psicogênese da língua escrita, não são encontradas fórmulas prontas
de métodos de alfabetização, no entanto , “são encontrados resultados de
pesquisa acerca do processo de aquisição da língua escrita por parte de
crianças, os quais podem contribuir para a compreensão do modo pelo qual esse
processo complexo acontece. Tal compreensão é importante, sobretudo, para
professores e psicólogos, público a que se destina preferencialmente o
livro.”(MELLO, 2007, p.89) .
“Ferreiro
afirma ter feito uma revolução conceitual a respeito da alfabetização, por ter
mudado o eixo em torno do qual passavam as discussões sobre o tema: dos debates
sobre os métodos e os testes utilizados para o ensino da leitura e da escrita
para a ideia de que não são os métodos que alfabetizam, nem os testes que auxiliam
o processo de alfabetização, mas são as crianças que (re)constroem o
conhecimento sobre a língua escrita, por meio de hipóteses que formulam, para
compreenderem o funcionamento desse objeto de conhecimento.”(MELLO, 2007,
p.88). “O conjunto das hipóteses elaboradas pelas crianças, denominado de níveis
de conceitualização, pode ser minimamente categorizado em: distinção entre o
icônico e não-icônico; exigência de quantidade mínima e variedade de
caracteres; hipótese silábica; hipótese silábica-alfabética; e hipótese
alfabética.”(MELLO, 2007, p.91)
A
autora conclui que a “ Psicogênese da língua escrita tornou-se um marco
na produção intelectual de Ferreiro e no que se refere ao seu pensamento
construtivista sobre alfabetização. É importante ressaltar que, embora esse
livro tenha sido escrito em co-autoria com Ana Teberosky5,
a maior parte da vasta produção escrita de Ferreiro, é de autoria de Ferreiro e
não está vinculada exclusivamente à de Teberosky; nem tampouco a de outros
pesquisadores, com os quais Ferreiro assina algumas outras
“publicações.”(MELLO, 2007, p.91)
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