DISCENTE: CAROLINE ALVES
Neste trabalho, pretendemos apresentar os resultados da pesquisa
“Psicogênese da língua escrita”, de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, em seus
aspectos linguísticos, significativos à alfabetização, e demonstrar os
equívocos mais comuns advindos da interpretação desvirtuada dessa teoria, bem
como suas consequências [...]. (p. 37).
Ferreiro e Teberosky, psicolinguistas argentinas, iniciaram em 1974 uma investigação, partindo da concepção de que a aquisição do conhecimento se baseia na atividade do sujeito em interação com o objeto de conhecimento e demonstraram que a criança, já antes de chegar à escola, tem ideias e faz hipóteses sobre o código escrito, descrevendo os estágios linguísticos que percorre até a aquisição da leitura e da escrita. (p. 37).
Pretendemos demonstrar que a aprendizagem da leitura, entendida como questionamento a respeito da natureza, função e valor deste objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola imagina, transcorrendo por insuspeitados caminhos. (p. 37).
Ferreiro e Teberosky, psicolinguistas argentinas, iniciaram em 1974 uma investigação, partindo da concepção de que a aquisição do conhecimento se baseia na atividade do sujeito em interação com o objeto de conhecimento e demonstraram que a criança, já antes de chegar à escola, tem ideias e faz hipóteses sobre o código escrito, descrevendo os estágios linguísticos que percorre até a aquisição da leitura e da escrita. (p. 37).
Pretendemos demonstrar que a aprendizagem da leitura, entendida como questionamento a respeito da natureza, função e valor deste objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola imagina, transcorrendo por insuspeitados caminhos. (p. 37).
[...] A criança, imersa em um mundo onde há a presença de sistemas
simbolicamente elaborados, como a escrita, procurando compreender a natureza
dessas marcas especiais. Nesta busca, o aprendiz vai elaborando um sistema de
representação através de um processo construtivo [...]. (p.37, 38).
A pesquisa mostrou que o analfabeto adulto, assim como as
crianças, sabem, mesmo antes de vir para a escola, que a escrita é um sistema
de representação e fazem hipóteses de como se dá tal representação. Entretanto,
Fuck (1993, p. 40) verifica: “Diferente das crianças, começamos a observar que
o analfabetizando (sic) adulto já superou o nível pré-silábico. Ele tem muito
claro que se escreve com letras e qual a função social da escrita [...]. (p. 38).
[...] a
Psicogênese da língua escrita descreve como o aprendiz se apropria dos conceitos
e das habilidades de ler e escrever, mostrando que a aquisição desses atos
linguísticos segue um percurso semelhante àquele que a humanidade percorreu até
chegar ao sistema alfabético, ou seja, o aluno, na fase pré-silábica do caminho
que percorre até alfabetizar-se, ignora que a palavra escrita representa a
palavra falada, e desconhece como essa representação se processa. (p. 39).
No nível
pré-silábico, em um primeiro momento, o aprendiz pensa que pode escrever com
desenhos, rabiscos, letras ou outros sinais gráficos, imaginando que a palavra
assim inscrita representa a coisa a que se refere. (p. 39).
Entretanto,
ainda neste nível, mesmo após tomar consciência de que se escreve com letras, o
aprendiz tenderá a grafar um número de letras, indiscriminado, sem antecipar
quantos e quais caracteres precisará usar para registrar palavras. Por exemplo,
quando o professor pedir que escreva gato, poderá escrever RARDICO, normalmente
limitando-se a usar apenas um pequeno inventário de letras, como as de seu nome
(RICARDO, por ex.), sem correspondência sonora alguma. (p. 39).
Somente
quando for questionado sobre a quantidade de vezes que abrimos a boca para
pronunciar determinada palavra é que o aluno começará a antecipar a quantidade
de letras que deverá registrar para escrever. (p. 39).
[...] a
passagem para o nível silábico é feita com atividades de vinculação do discurso
oral com o texto escrito, da palavra escrita com a palavra falada. (p. 40).
É comum,
principalmente entre as crianças, encontrarmos alunos que parecem “comer
letras” ou usar mais letras do que as palavras requerem. Entretanto, os adultos
reconhecem como palavras, combinações de letras e sílabas com algum significado
e que se distinguem dos desenhos. Sabem que o alfabeto não basta, para ler e
escrever. (p. 40).
Assim,
diferentemente dos adultos, as crianças parecem passar pelas fases pré-silábica
e silábica, atingindo finalmente a alfabética. Nesse nível alfabético, o
aprendiz analisa na palavra suas vogais e consoantes. Acredita que as palavras
escritas devem representar as palavras faladas, com correspondência absoluta de
letras e sons. Já estão alfabetizados, porém terão conflitos sérios, ao
comparar sua escrita alfabética e espontânea com a escrita ortográfica, em que
se fala de um jeito e se escreve de outro. (p. 40).
A criança
alfabetiza a si mesma e inicia essa aprendizagem antes mesmo de entrar na
escola, e seus efeitos prolongam-se após a ação pedagógica, período durante o
qual, para conhecer a natureza da escrita, deve participar de atividades de
produção e interpretação escritas, tendo o professor o papel de mediador entre
a criança e a escrita, criando estratégias que propiciem o contato do aprendiz
com esse objeto social, para que possa pensar e agir sobre ele. A mediação do
alfabetizador não o desobriga de seu papel de informante sobre as convenções do
código escrito. (p. 41).
O
professor trabalha letramento realizando leituras de diferentes gêneros
textuais aos alunos. Chamamos a atenção para os diferentes tipos de textos,
pois constatamos, hoje, o equívoco de que literatura infantil ou infantojuvenil
sejam sinônimos de letramento. Letrar é uma tarefa extremamente ampla que, por
definição, envolve habilidades múltiplas de ler, interpretar e produzir textos
adequados às exigências sociais. Assim, em princípio, tal atividade engloba os
mais diferentes gêneros textuais, portanto é atitude ingênua pensar que, lendo
apenas histórias infantis, poemas ou parlendas, iremos letrar alguém. (p. 47).
Observando
a História da escrita, sob enfoque linguístico, observa-se que esta constitui
objeto que precisa ser ensinado. A partir do momento em que a escrita abandonou
seu caráter pictográfico (a escrita através de desenhos, imagens do que se quer
representar) e passou ao ideográfico (traçados que transmitem a ideia do objeto
a ser representado), tornou-se uma convenção, que necessariamente precisa ser
ensinada. Assim, afirmar que, sem a realização de um trabalho sistemático,
alguém aprenderá a escrever é uma falácia. (p. 49).
Hoje,
dificilmente, se encontram professores que conseguem desenvolver um trabalho
sistematizado. Infelizmente, a maioria limita-se a reproduzir as estratégias de
nível pré-silábico de modo aleatório, muitas vezes entregam a atividade sem
fornecer orientações sobre o que é para ser feito, mesmo quando dão a resposta,
fazem isso antes de o aluno refletir sobre o assunto. Assim, sem orientação e persistência
necessárias para que os alunos tenham a oportunidade de compreender, memorizar
as grafias, estabelecer associações e apropriar-se do conhecimento, o trabalho
torna-se mecânico. (p. 50).
Porém, a
aprendizagem da escrita (codificação de sinais) é mais complexa. Para ler, o
aluno irá memorizar grafias diferentes e estabelecer a correspondência entre
qual grafia representa determinado som; entretanto, para escrever (codificar),
o esforço a ser empreendido é muito maior, pois tem-se observado em salas,
durante duas décadas após a divulgação da Psicogênese, o aparecimento de outro
problema quando, por exemplo, 90% dos alunos de uma classe dominam o alfabeto,
sua leitura e escrita, mas não sabem combinar letras para compor palavras. (p.
51).
[...] Na
mesma época da divulgação da Psicogênese, houve, no Estado de São Paulo, a
criação dos Ciclos Básicos, em que a permanência da criança na escola foi
ampliada de quatro para cinco horas, e o curso tinha por base ciclos e não
séries. O primeiro ciclo continha a 1ª e 2ª séries, e o segundo, a 3ª e 4ª
séries (CBI - Ciclo Básico Inicial - e CBC - Ciclo Básico em Continuidade -
respectivamente). Desse modo, o aluno era promovido do CBI para o CBC
automaticamente sob o pretexto de que, na segunda etapa do 1º ciclo, o aluno
que não se alfabetizara na primeira, teria a oportunidade de concluir sua
alfabetização. (p. 52).
Enfatizamos
que não defendemos a silabação feita pela cartilha, recitada em coros
mecânicos, com a sequência tradicional das letras [...]. (p. 54).
Analisando
a alfabetização ao longo dos últimos 20 anos, constata-se que a teoria
construtivista tem sido adotada por vários estados do Brasil como se fosse uma
fórmula mágica para resolver todos os problemas relativos ao tema, mas resultados
de pesquisas como o INAF 2009 (INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, 2009) mostram
índices alarmantes de analfabetismo. (p. 56).
Nesse
sentido, é urgente a adoção de metodologia adequada para que crianças sejam
alfabetizadas em nosso país, assumindo a definição de alfabetização, em sua
especificidade, como conjunto de técnicas para exercer a arte e a ciência da
escrita. (p. 56).
O
construtivismo teve seu mérito, à medida que destronou a cartilha e apresentou
uma teoria sobre a aquisição da escrita. Entretanto, segundo Soares (2003a), na
época da cartilha havia método sem teoria sobre alfabetização, hoje há uma bela
teoria, mas não se tem método. O ideal é que se tenha um método com base em uma
teoria de alfabetização. (p. 56).
MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA, Olympio Correa de. Psicogênese da Língua Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Pró-Reitoria de Graduação. Caderno de formação: formação de professores: Bloco 02: Didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. v. 2. p. 36-57. (D16 - Conteúdo e Didática de Alfabetização). Disponível em: <http://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/40138>. Acesso em: 04 de Dez 20015.
MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA, Olympio Correa de. Psicogênese da Língua Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Pró-Reitoria de Graduação. Caderno de formação: formação de professores: Bloco 02: Didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. v. 2. p. 36-57. (D16 - Conteúdo e Didática de Alfabetização). Disponível em: <http://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/40138>. Acesso em: 04 de Dez 20015.
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